Estudantes do Técnico desenvolvem linha de montagem com dois braços robóticos como projeto de fim de curso

Oito finalistas da Licenciatura em Engenharia Mecânica automatizaram um sistema de produção flexível e inteligente que poderá vir a estar envolvido na produção de vários dispositivos.

Na cave do Pavilhão de Mecânica III do campus Alameda do Instituto Superior Técnico, ouve-se silvos curtos produzidos pela maquinaria que lá opera. De forma autónoma, um braço robótico coloca uma peça de plástico azul com o brasão da Escola num tapete móvel que a conduz até às proximidades de um outro braço. Este segundo pega na peça e pousa-a na prateleira adequada de um local de armazenamento.

Todo o processo é supervisionado atentamente por oito estudantes finalistas da Licenciatura de Engenharia Mecânica do Técnico. Foi o trabalho deste grupo que culminou no funcionamento adequado desta maquinaria, parte integrante de um ‘Sistema de Produção Flexível e Inteligente’. Esse é, justamente, o nome dado pelos estudantes ao seu Projeto Integrador de Conhecimentos (PIC), que viriam a apresentar a 7 de junho, no primeiro simpósio de PICs no Técnico Innovation Center.

Este grupo de finalistas estabeleceu uma linha de montagem a partir de maquinaria previamente adquirida pelo Técnico. Automatizaram todo o sistema com vista a produzir um componente final – a peça de plástico azul representa um hipotético dispositivo sem fios para carregamento de telemóveis e auriculares. Este serviu como um meio de validação, mas que facilmente pode ser substituído por outro equipamento – pretende-se que este sistema seja flexível, podendo estar envolvido na produção de vários tipos diferentes de dispositivos.

“Digo isto com algum orgulho: não tive de olhar para uma linha de código”, elogia João Costa Sousa, professor do Técnico e supervisor deste PIC. Já procedeu, entretanto, às verificações que considerou necessárias, mas o mote inicial que deu à equipa foi “eu quero ver isto a funcionar, não o código” – e os estudantes assim o fizeram, com “muita autonomia”, destaca o docente.

A máquina já tinha sido adquirida pelo Técnico “mas ainda não estava preparada para funcionar”, conta Bernardo Chagas, um dos estudantes do grupo e gestor de projeto deste PIC. “Surgiu a oportunidade de poder prosseguir com o desenvolvimento deste sistema e deixá-lo totalmente integrado e funcional para poder ser utilizado noutros projetos, com novos produtos e novas funcionalidades”, explica o aluno, para quem a experiência de cumprir um PIC “foi fantástica”. ”Com este projeto, conseguimos integrar conhecimentos de várias cadeiras e, com alguma autonomia e persistência, obter um resultado final bastante bom”, descreve.

O processo iniciou-se com uma fase de formação, na qual os estudantes tiveram contacto direto com a empresa que forneceu o equipamento, adquirindo capacidades e ferramentas necessárias para conseguir trabalhar posteriormente e desenvolver o sistema de forma autónoma. De seguida, foi produzido o código para o funcionamento do robot colaborativo e do sistema automático, incluindo o raciocínio lógico que determina o relacionamento das diferentes partes.

João Costa Sousa considera “fundamental” a existência dos PIC no plano curricular do curso,  apontado a “liberdade que dão” aos estudantes como a principal vantagem. Considera que o PIC “deve ser integrador mas também deve dar liberdade na proposta de projetos e, no próprio desenvolvimento, [deve permitir] que os alunos sintam esta capacidade de fazer algo que pode ser mais relacionado com investigação, ou implementação, ou desenvolvimento de produto”. “Há muitas formas de ser engenheiro, arquiteto ou cientista” e, nesse sentido, o docente defende que o PIC é uma mais-valia, impedindo que os estudantes se tornem somente em “fazedores de exames”.

Com vista a potenciar os benefícios que os PICs podem trazer, João Costa Sousa deixou ainda uma palavra de encorajamento às empresas para que se envolvam mais ativamente neste tipo de projeto, uma vez que “têm um retorno enorme”, conhecendo já os estudantes no momento de recrutamento. É nesse sentido que “o Técnico tem um potencial enorme para criar muito valor”.

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