Alumni de Engenharia Mecânica, João Passos, responde a 10 questões

João Passos, 40 anos, nasceu na linda cidade de Santarém, “Capital do Gótico”, pelo que é orgulhosamente Scalabitano. Contudo, o seu coração divide-se entre a sua cidade natal e Lisboa, onde viveu desde os 11 anos. Em 2009, completou o Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica e nesse mesmo ano, iniciou o seu percurso profissional como Engenheiro de Desenvolvimento de Produto. Em 2011, abraçou a área aeroespacial, começando como Engenheiro de Design no programa KC-390. Em 2015, mudou-se para Inglaterra, dando continuidade ao seu percurso profissional na área aeroespacial. Assumiu sucessivos e diferentes cargos de gestão em áreas de engenharia. Actualmente, é Senior Engineering Manager na Collins Aerospace na unidade de sistemas de atuação, área da aeronáutica militar e sistemas de defesa. Recentemente, completou um MBA na Warwick Business School e continua a viver em Inglaterra, país que adotou como seu. Porém, sempre que lhe é possível, vai a Portugal para estar com a sua família, com os seus amigos, e ‘matar’ saudades da comida portuguesa, que é sem dúvida, a melhor do mundo.

Porquê o Técnico?

O interesse pela engenharia sempre esteve presente. Desde criança, desmontava os brinquedos para criar mecanismos. Durante a frequência do 9° ano, fiz testes psicotécnicos e os resultados demonstraram a minha orientação para a área de engenharia. Na minha pesquisa por universidades de referência, o Técnico estava no topo das universidades Portuguesas em Engenharia Mecânica. Acho que a escolha foi simples a partir desse momento.

Pode falar-nos um pouco dos seus estudos no Técnico?

O início foi um desafio. Não me adaptei facilmente ao ritmo, à exigência do quanto tinha de estudar porque durante o ensino secundário, não me era requerido estudar muito. O apoio dos meus pais e o apoio dos meus colegas de curso foram fatores cruciais para me mentalizar em completar as cadeiras com boas notas. Acho que alcancei esse objectivo no fim. Por decisão pessoal, no 4° ano, um ano e meio antes do arranque oficial, comecei a trabalhar na tese de mestrado, o que acabou por me dar motivação extra nos dois últimos anos de curso. Foram anos de muitas horas de estudo, doses extra de cafeína com os CDs/MP3s dos Muse constantemente a tocar. Sem dúvida, umas das melhores experiências da minha vida.

Qual foi a melhor parte do seu curso? E a mais desafiante?

O 3° ano foi o mais desafiante. Provavelmente, por ser o culminar de 3 anos de cadeiras mais teóricas, por ser o ano com mais material de estudo. Recordo-me da cadeira de Transmissão de Calor. Uma cadeira muito interessante, mas o material de estudo era suficiente para dois semestres. O 4° e 5° anos foram constituídos por cadeiras mais práticas e relacionadas com a indústria, nos quais descobri a versatilidade da engenharia mecânica. Também foram os anos durante os quais realizei os trabalhos de grupo mais interessantes, incluindo visitas a empresas e estudos de otimização de linhas de produção. Isso foi muito gratificante porque deu-me a primeira experiência no mundo de trabalho real.

No Técnico, teve alguma figura inspiradora? Quem e porquê?

O professor Jorge Rodrigues e a  professora Bárbara Gouveia, sem dúvida. Inspiraram-me pela sua dedicação aos alunos, pela sua forma excepcional de lecionar, pela sua enorme inteligência. Ambos foram orientadores da minha tese de mestrado. No decorrer da minha tese, dedicaram-me uma manhã por semana. Chegava às sessões da tese a pensar que sabia muito. Saía de lá com a noção de que tinha muito para aprender. Foi algo que me inspirou a continuar a aprender mais e mais, dia após dia. É algo que faz parte de mim, ainda hoje.

Qual é o seu lugar preferido no Técnico e porquê?

Talvez a biblioteca do edifício central. Adorava o silêncio, as janelas altas, o estar rodeado de livros num edifício histórico, os phones nos ouvidos, os Muse a tocar bem alto, tudo contribui para ser o ambiente ideal e propício ao estudo. A proximidade do café do edifício central que vendia café barato, se a memória não me falha, o café custava €0.3, também era importante. À altura, como muitos estudantes, o dinheiro não abundava…

Fale-nos um pouco sobre o trabalho que está a desenvolver atualmente.

Como referi na minha apresentação, atualmente, sou Senior Engineering Manager na Collins Aerospace. Tenho sob a minha responsabilidade, uma equipa de 50 engenheiros de várias vertentes de engenharia aeroespacial: o design, validação estrutural, engenharia de materiais, sistemas, eletrónica e, ainda, uma equipa de teste e certificação. Desenvolvemos sistemas de actuação para superfícies aerodinâmicas de caças militares de diferentes gerações, bem como sistemas de defesa para vários clientes.

Quais têm sido os grandes desafios da sua carreira?

Os anos da pandemia. À época, estava a trabalhar no programa A350. Todos os aviões ‘em terra’, os volumes de produção reduzidos quase a zero, o aftermarket praticamente inexistente, a área civil sofreu muito financeiramente. As repercussões na supply chain das grandes OEMs foram gigantes.

Atualmente, como é um dia típico para si?

Acordo às 6:00, tomo um café longo e leio as notícias. Começo a trabalhar às 7:30. Apesar de preferir as manhãs para trabalhar, preciso de uma hora, no mínimo, para acordar por completo… Normalmente, a manhã é dedicada a reuniões mais táticas, focadas na revisão dos principais projectos de desenvolvimento e no apoio necessário às linhas de produção dos programas existentes. Ainda durante a manhã, tenho 1:1s com a minha equipa de gestão mais direta. Durante este tempo falamos sobre assuntos relacionados com as suas próprias equipas. Normalmente tenho um almoço leve na secretária e aproveito para ler os emails. As tardes são dedicadas a reuniões mais estratégicas, de curto e de longo prazo, revisão de relatórios financeiros e revisão de projetos de melhoria contínua. No final do dia, faço questão de ir uma hora ao ginásio. Ocasionalmente, jogo futebol, uma paixão que permanece desde criança e se pudesse jogava todos os dias. Normalmente termino o dia com um bom livro que me ajuda a relaxar e a desligar mas, cá em casa, estou sempre a ouvir que estamos a ficar sem espaço para mais livros…

O que o faz ter orgulho em ser um alumnus do Técnico?

Poder dizer que aprendi as bases de como ser engenheiro no topo das instituições que lecionam Engenharia Mecânica, mas também um orgulho em ter superado uma experiência tão desafiante, tão gratificante. Pontualmente, apesar de estar a ficar velhinha, é com enorme orgulho que visto a minha sweatshirt do Técnico nas teleconferências do trabalho.

Que conselhos daria aos estudantes atuais?

Aproveitem o vosso tempo no Técnico para absorver todo o conhecimento que vos é posto à disposição. Serão os últimos anos que terão o privilégio de poderem dedicar-se unicamente a aprender. As bases teóricas são muito importantes para tomar decisões credíveis e sustentadas ao longo da vossa carreira profissional.

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